A riqueza de poucos beneficia todos nós?

Publicado em: 01/06/2018
A riqueza de poucos beneficia todos nós?

    Achille Mbembe em, O fim da era do humanismo, apresenta um cenário de guerras que infelizmente torna-se cada vez mais provável: com o crescimento das desigualdades em todo o mundo, conflitos sociais na forma de racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais. A partir da difamação crescente de virtudes como o cuidado, a  generosidade, a leitura  dele   é que os pobres,e não só eles, passarão a acreditar que ganhar – por qualquer meio necessário – é a coisa certa a ser feita. E então virão novos impulsos separatistas, a construção de mais muros, a militarização de mais fronteiras, formas mortais de policiamento, guerras mais assimétricas, alianças quebradas e inumeráveis divisões internas, inclusive em democracias estabelecidas.

    Apesar de a desigualdade planetária entre economias nacionais, medida em renda per capita média, continuar a encolher, a distância entre os mais ricos globais e os mais pobres globais continua a crescer, e os diferenciais de renda dentro dos países continuam a se expandir. No Brasil, os 10% mais ricos detêm 55% da riqueza, num movimento crescente. Nos Estados Unidos esse percentual é de 47% e na França de 33%. Temos de repensar nossos valores, metas, modelos de organização e o processo de acumulação capitalista que gerou a grande armadilha social, o moto-contínuo da desigualdade, tal como definido por Bauman em A riqueza de poucos beneficia todos nós?: “Pessoas que são ricas estão ficando mais ricas apenas porque já são ricas. Pessoas que são pobres estão ficando mais pobres apenas porque já são pobres. Hoje a desigualdade continua a aprofundar-se pela ação de sua própria lógica e de seu momento. Ela não carece de nenhum auxílio ou estímulo a partir de fora – nenhum incentivo, pressão ou choque. A desigualdade social parece agora estar mais perto do que nunca de se transformar no primeiro moto-perpétuo da história – o qual seres humanos, depois de inumeráveis tentativas fracassadas, afinal conseguiram inventar e pôr em movimento.”