Adoecimento psíquico nos bancos é grave e não pode ser naturalizado
O crescimento dos casos de adoecimento psíquico na categoria bancária é grave e crônico e tem que ser combatido, não podendo ser naturalizado. Esta foi uma das principais conclusões a que chegarem os participantes do debate virtual “Adoecimento Psíquico no Trabalho Bancário”, realizado na noite desta quarta-feira (5/4), nas redes sociais do Sindicato. Ao final foi feito um minuto de silêncio pelas crianças assassinadas numa creche em Blumenau (SC).
O psicoterapeuta Rui Stockinger trouxe dados de pesquisa da Universidade Católica de Petrópolis, que mostraram que 84,8% dos bancários adoecidos tinham a Síndrome de Bournout (veja no final desta matéria). Conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema
Adriana Nalesso, presidenta da Federação das Bancárias e Bancários do Rio de Janeiro (Federa-RJ), classificou o tema do adoecimento mental no sistema financeiro como muito importante.
“Não podemos naturalizar o que vem acontecendo e se agravando, graças à pressão diária e sistemática. Isto não pode ser considerado normal. Temos que atuar em todas as frentes para combater este tipo de politica desumana imposta pelos bancos”, afirmou.
O debate foi promovido pela Secretaria de Saúde do Sindicato. O titular da pasta, Edelson Figueiredo, coordenou o evento. "É importante levar este debate a toda a categoria", disse.
Mecanismo perverso
O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, afirmou ser preciso dar visibilidade ao drama sofrido pela categoria bancária. “O que vem acontecendo é muito grave. Jovens estão adoecendo em função da pressão absurda do trabalho, e isso não pode ser considerado normal, é intolerável”, criticou. Frisou que esta realidade é fruto de um mecanismo perverso imposto pelos bancos unicamente para produzir resultados, sem levar em conta o fator humano.
“É a cobrança por metas abusivas com ameaça de que se não forem atingidas a remuneração será reduzida, ou a punição será a demissão, no caso dos bancos privados, e o descomissionamento nos públicos. O resultado é o aumento do adoecimento, chegando até ao suicídio”, disse.
Salles disse que a situação chegou a um nível tão grave que pela primeira vez em décadas os bancos aceitarem discutir metas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). “Além disto, conquistamos avanços importantes, como a proibição do ranqueamento, que funcionava como mecanismo de assédio moral institucional. Mas é preciso avançar mais”, disse.
Opinou que a luta pelo fim da pressão tem que ser conseguido dando visibilidade ao problema, mostrando esta realidade à sociedade. “Vamos denunciar isto neste dia 7, Dia Mundial da Saúde. No dia 11 de abril serão feitos protestos por “Menos metas, mais saúde”. Além disto, temos que cobrar ações do governo, como fiscalização nos bancos, por parte do Ministério do Trabalho, da vigilância em saúde no trabalho, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pela agilização e respeito à categoria bancária por parte da perícia médica do INSS”, exemplificou.
80% com síndrome de Bournout
Pesquisa da Universidade Católica de Petrópolis, coordenada pelo professo Rui Costa, psicólogo e psicoterapeuta, que participou do debate, mostrou que 84,8% dos bancários adoecidos tinham a Síndrome de Burnout. Conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema. Rui explicou que pesquisas anteriores mostraram um percentual menor, como a de 2014 de 49% e a de 2018 de 55%.
“Foram consultados 1.585 bancários. Destes, 67,8% afirmaram não conseguir atingir as metas fixadas pelos bancos, um fator de desmotivação. A pesquisa mostrou outro fato preocupante: apenas 7,5 horas semanais eram destinadas ao lazer quando em outras categorias a média é de 12 ou 13 horas, indicando um alto índice de estresse e comprometimento da vida pessoal”, disse.
Segundo a pesquisa, 49% disse sentir-se pouco ou nada realizado em seu trabalho. “Isto gera uma situação de não valorização profissional que a pessoa acaba levando para a sua vida pessoal, com impacto na família”, explicou.
Além da pressão por metas em si, acabam gerando a Síndrome de Bournot, no caso da categoria bancária, o conflito ético de valores gerais, profissionais e muitas vezes religiosos. “Uma das causas apontadas é a obrigação de vender produtos que vão lesar os clientes. Isso abala valores centrais de sua personalidade para manter o seu emprego, levando, com o tempo, a um sentimento de vazio, ao desinteresse pela vida, a não ter vontade de cuidar de si, seja no trabalho ou em casa. Toda esta situação o leva a se afastar da pessoa que realmente é”, avaliou.
O conflito faz a pessoa a perder a capacidade de se atualizar, passando a agir de forma automática, sem espontaneidade. “Começa a se sentir incapaz de se realizar no banco e também fora dele, mas fica dependente daquela estrutura de funcionamento, abusiva e assediadora. Estamos falando de um assédio estrutural, presente na estrutura dos bancos”, frisou.
O professor explicou que a partir daí a pessoa com Síndrome de Bournout é levada a se recusar a ir ao trabalho. “Passa a sentir mal-estar psicológico, com choro, dores de cabeça, ansiedade, taquicardia, alteração de pressão. São muitos os bancários com Síndrome de Bournout”, constatou.