Assédio moral virando rotina no Itaú Unibanco
            
            Mecanismos criados pelo banco para combater problema, como ombudsman, provaram-se ineficazes
A bancária Rita (nome fictício) começou a trabalhar na Diretoria de  Segurança Corporativa do Itaú em novembro de 2008. Em abril de 2009,  passou pelo primeiro Feedback com seu chefe. “Eu estranhei que toda a  avaliação foi só relacionada à forma como eu me vestia. Ele disse que eu  me vestia bem demais, que eu chamava muita atenção. A conversa ficou  nisso e a partir de então eu comecei a ter problemas”, disse. Foi nessa  época que Rita fez o primeiro contato com o ombudsman do banco para  relatar os problemas que estava vivendo.
No segundo Feedback,  novos problemas. Rita, que então trabalhava em um projeto que tinha como  meta atingir 8% de conscientização sobre segurança nos funcionários,  chegou ao percentual de 17%. “Fiquei muito contente com o resultado, mas  meu chefe disse que tinha baixado minha meta propositalmente e que só  por isso eu tinha conseguido aquele percentual. Percebi que havia alguma  coisa errada, tinha ali um problema pessoal”, diz.
Os problemas  foram se acumulando até chegar ao cúmulo de o chefe pedir para que duas  colegas de trabalho não almoçassem com Rita, pois, na sua opinião, ela  ficava falando mal dele durante as refeições. No último Feedback, Rita  discordou de algumas afirmações do chefe pois, para, ela elas não  correspondiam à realidade dos fatos. “Foi a única avaliação que ele  registrou. Enviei esse Feedback ao ombudsman e à Consultoria de RH, mas  nada aconteceu”, diz.
Três dias depois, em abril passado, ela foi  demitida com a justificativa de baixa produtividade. “Minhas notas no  sistema de metas e performance estavam entre as melhores da equipe, como  ele pode ter dado esta justificativa para me demitir?”, questiona.
Ombudsman  – Entre abril de 2009 a abril de 2010, Rita fez oito contatos  por e-mail com o ombudsman do banco e mais outros pelo telefone, além de  contatos com a Consultoria de RH. Para ela, esses mecanismos têm pouco  poder de ajudar bancários na situação em que ela se encontrava. “Eles me  sugeriram falar com o supervisor e disseram para procurar outra área.  Não me parece que o ombudsman e o pessoal da Consultoria tenha autonomia  para fazer algo mais efetivo.”
Para a diretora do Sindicato Ana  Tércia Sanches, o problema pode ser ainda mais grave. “Não é a primeira  denúncia ao ombudsman que acaba em demissão. Em outros episódios já  houve a quebra do sigilo da identidade do denunciante. O gestor sempre  acaba tomando conhecimento do fato e começa a promover novas  retaliações. É inadmissível que a identidade do bancário não seja  preservada em casos assim”, diz a dirigente sindical.
Problema  generalizado – Na opinião da sindicalista, o assédio moral  dentro do Itaú Unibanco está generalizado por conta da pressão por  metas. “É um problema institucional, que vem de cima, a partir das  ordens para reduzir custos, cumprir prazos e aumentar vendas. Isso acaba  estourando nos bancários, que vivem um ritmo de trabalho alucinante e  vêem suas relações pessoais se desintegrando”, diz.
Ana Tércia  destaca que a realidade dos bancários está cada vez mais distanciada do  discurso da direção do banco, segundo o qual o bancário seria um  “colaborador”. “Já passou da hora de o banco rever a forma como lida com  os problemas internos, uma vez que mecanismos como o ombudsman já  provaram ser ineficazes”, afirma.
Fonte: SEEB SP