Fim da violência contra a mulher: Começa campanha de 21 dias de ativismo
A Contraf-CUT integra a campanha "21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher", iniciada em 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) e que seguirá até 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos). Internacionalmente são 16 dias de ativismo, com início no Dia do Combate à Violência contra a Mulher, em 25 de novembro.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 840 milhões de mulheres já sofreram algum episódio de violência doméstica ou sexual ao longo da vida, o que significa uma em cada três. Nos últimos 12 meses, 316 milhões foram vítimas de violência física ou sexual praticadas pelo parceiro.
No Brasil, a publicação mais recente do Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), também revela números alarmantes de homicídios femininos e de agressões contra mulheres. Segundo o relatório, somente em 2023, os registros do sistema de saúde apontaram que 3.903 mulheres foram vítimas de homicídios.
O Atlas destaca ainda uma estagnação na taxa de homicídios femininos entre 2022 e 2023, enquanto a taxa geral de homicídios recuou 2,3%, no mesmo período. Em onze anos - de 2013 a 2023 - ocorreram 47 mil homicídios de mulheres, ou 13 por dia.
O Atlas da Violência confirma também que a violência letal atinge de forma desproporcional as mulheres negras: em 2023, foram registradas 2.662 mulheres negras vítimas de homicídio, o que representa 68,2% do total de homicídios femininos.
"Esses números de homicídios contra as mulheres evidenciam o fenômeno estrutural da violência de gênero", observa a secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes. "Por isso a importância da campanha dos 21 Dias de Ativismo, para dar o máximo de visibilidade ao tema e continuar combatendo os vários tipos de violência que assolam as mulheres", reforça a dirigente.
Ela completa que, além do homicídio, as mulheres precisam enfrentar o assédio moral, sexual, sobrecarga de trabalho e a desigualdade salarial e de oportunidades no mercado de trabalho. "O feminicídio é, portanto, somente uma das facetas da misoginia, expressão que designa ódio ou aversão contra mulheres e meninas, e que se manifestam com diversos tipos de ataques à figura feminina”, explica.
Violência digital
Fernanda Lopes reforça que, neste ano, o movimento sindical das trabalhadoras do ramo financeiro irá focar os 21 Dias de Ativismo no combate à violência digital. "Existem vários levantamentos que identificam o aumento do discurso de ódio contra as mulheres nas plataformas online. E, diante de uma sociedade cada vez mais conectada, é fundamental discutir como tornar o ambiente digital seguro e livre de reprodução da misoginia", completa a secretária da Mulher da Contraf-CUT.
Segundo dados fornecidos pela estrategista digital e cientista social, Brunna Rosa Alfaia, durante o “Workshop de comunicação e atuação em redes", realizado recentemente na capital de São Paulo, pela UNI Américas e Contraf-CUT, o Brasil é um dos países mais conectados do mundo: são 144 milhões de usuários ativos das redes sociais (67,8% da população) que ficam, em média, 3h32 por dia nessas plataformas.
Em entrevista à BBC, a escritora e pesquisadora inglesa Laura Bates, afirmou que, pela primeira vez na história, o machismo é maior entre os mais jovens e, isso, por conta da popularização das redes sociais, que acabaram se tornando um ambiente ideal para catapultar a radicalização entre os meninos. "Não estamos diante de uma geração inerentemente misógina. Trata-se na verdade de uma geração de jovens que acessa determinados sites, aplicativos e outros ambientes online com algoritmos incrivelmente poderosos e treinados para servir conteúdos cada vez mais extremistas", destacou.
Assim, além de matérias no portal de notícias da Contraf-CUT, sindicatos e federações, nos próximos dias, a categoria bancária usará as redes sociais e grupos do WhatsApp para compartilhar informações de combate à violência de gênero.
"Com a Inteligência Artificial (IA) ganhando cada vez mais espaço na vida de todos nós, a propagação massiva das informações que defendemos contra a violência de gênero é fundamental, isso porque enquanto se desenvolve, a IA generativa está utilizando, em tempo real, os dados produzidos e divulgados pela humanidade na internet. Em outras palavras, se nós deixarmos de lutar ativamente nas plataformas online, a IA irá ‘aprender’ e reproduzir muito mais pensamentos discriminatórios contra as mulheres, do que o contrário, reforçando o sexismo na sociedade", pondera Fernanda Lopes.
Por que no Brasil o período é diferente
Os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher foram estabelecidos em 1991, durante reunião do Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL).
A iniciativa em âmbito mundial começa no dia 25 de novembro em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, que enfrentaram Rafael Leónidas Trujillo Molina, ditador da República Dominicana entre 1930 e 1961.
Porém, no Brasil, os movimentos sociais feministas decidiram iniciar os dias de ativismo em 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, estabelecendo assim os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher.
A seguir, as datas que compõe a campanha no Brasil:
- 20 de novembro – Dia da Consciência Negra;
- 25 de novembro – Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres;
- 1º de dezembro – Dia Mundial de Combate à AIDS;
- 2 de dezembro – Dia M: Mulheres, Mobilidade e Mais Respeito;
- 3 de dezembro – Dia Internacional das Pessoas com Deficiência;
- 6 de dezembro – Dia dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres (campanha do Laço Branco);
- 10 de dezembro – Dia Internacional dos Direitos Humanos.