Governo não tem legitimidade e política econômica fracassou

A equipe econômica do governo Michel Temer vai refazer as contas para estabelecer nova meta de déficit de 2017 e 2018. Com receitas em permanente queda, o governo deve ampliar a meta do déficit deste ano, passando de R$ 139 bilhões para R$ 158 bilhões. Projeções também indicam que os investimentos do governo federal podem chegar ao final deste ano no menor nível em dez anos.
O problema é que o investimento público não é parte do receituário dos que comandam a política econômica brasileira atual, chefiados pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles. De janeiro a maio de 2017, os investimentos representaram cerca de 2,5% das despesas primárias do governo federal, ante 4,7% no mesmo período do ano passado, segundo o jornal Valor. Para o professor da Unicamp, Nogueira da Costa, os sinais indicam que a política econômica de Meirelles e do governo Michel Temer está fazendo água. “A política fracassou”, diz. “O governo não tem legitimidade politica. Foi feito um golpe parlamentarista num regime presidencialista, mas o governo atual mostrou que não tem competência, como ficou claro para a população.” Ele lembra que Temer tem a pior avaliação desde a redemocratização do país.
“Esse governo não tem legitimidade e adotou uma política econômica equivocada. Priorizou o combate à inflação para atender sua base política com uma overdose de juros elevados, provocando a grande depressão.” O país está num círculo vicioso. Os juros aumentam e cai a renda da população. Como esta não compra e o crédito está caro, o ritmo da inflação vai para baixo, assim como a arrecadação fiscal. Para “corrigir”, cortam-se gastos e investimentos, o que agrava a queda do PIB e aumenta a depressão... “É um parafuso em espiral negativa sem fim”, afirma Nogueira da Costa.
Como, de algum lugar, o governo vai ter que tirar dinheiro para pagar a conta e cobrir o rombo, mas a política está se mostrando ineficaz, “ou ele vai ter que mudar o planejamento do seu déficit ou aumentar a carga tributária, mas, aí, vai provocar revolta com impacto na própria base. O pato da Fiesp já bateu asas. A direita, os neoliberais, não aceitam aumentar a carga tributária”, diz Nogueira da Costa.
Com esse cenário, Temer já recuou e negou o aumento do Imposto de Renda. Na terça-feira 08/08, disse em nota que não enviará ao Congresso uma proposta de aumento das alíquotas do IR. “Quando ele recua, é socialmente pior, porque, se aumenta impostos sobre os mais ricos, é menos mal. Mas onde ele vai cortar? Vai cortar os gastos sociais”, prevê o professor.