Guerra comercial de Trump gera inflação imediata nos EUA e impacta economia global

Tarifaço de Donald Trump encarece desde a água engarrafada até automóveis para os norte-americanos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, implementou, na terça-feira (4), um pacote tarifário agressivo sobre produtos importados do Canadá, México e China, seus três maiores parceiros comerciais. Em declaração pública, Trump justificou a medida sob o lema "Make America Great Again" ("faça a América grande novamente"), alegando que a iniciativa visa fortalecer o mercado interno e impulsionar a produção nacional. No entanto, a população norte-americana já sente o peso da decisão no bolso, com aumentos imediatos nos preços de produtos essenciais.
Economistas apontam que, após um breve período de otimismo pós-eleitoral, os consumidores já demonstram pessimismo crescente em relação à economia do país. Segundo um levantamento do Instituto Peterson de Economia Internacional, o tarifaço pode representar um custo adicional de mais de US$ 1,2 mil (cerca de R$ 7 mil) por ano para a família norte-americana média.
Impacto imediato no custo de vida
A empresa de análise de mercado InMarket, que monitora os hábitos de consumo dos norte-americanos, revelou que os consumidores estão trocando marcas tradicionais por opções mais baratas e comprando em mais estabelecimentos para encontrar melhores ofertas. Mesmo os consumidores de renda mais alta têm recorrido a marcas econômicas para itens como água engarrafada, vegetais congelados, aves, ovos e queijos.
Embora tarifas sobre produtos chineses tenham sido impostas anteriormente por Trump sem grande impacto imediato, especialistas alertam que, desta vez, as consequências serão significativamente mais severas. As novas taxas incluem um aumento de 25% sobre produtos do Canadá e do México, além de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses. As tarifas atingem diretamente aliados estratégicos dos EUA, levando esses países a ameaçar retaliações comerciais.
De acordo com Brian Cornell, CEO da rede varejista Target, os consumidores notarão rapidamente a alta de preços em frutas e hortaliças importadas, como morangos, bananas e abacates, provenientes do México. “Essas são cadeias de suprimentos realmente curtas e dependemos do México durante o inverno para frutas e vegetais”, disse Cornell à CNBC. Dados apontam que os preços dos alimentos subiram 28% desde 2020, com um salto de 0,5% apenas entre dezembro e janeiro, a maior alta mensal em mais de dois anos.
Os combustíveis também serão fortemente impactados. Segundo Patrick De Haan, analista chefe da GasBuddy, o preço da gasolina deve subir entre 20 e 40 centavos por galão nos próximos dias na região da Nova Inglaterra (Maine, Vermont, New Hampshire, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island), que depende de refinarias canadenses para abastecimento de combustíveis e óleo de aquecimento. “Pode levar mais algumas semanas, no entanto, antes que os custos mais altos cheguem ao Centro-Oeste. Refinarias em Michigan, Wisconsin, Indiana e Ohio obtêm a maior parte de seu petróleo bruto do Canadá”, explicou De Haan ao New York Times.
Indústria automotiva sob pressão
O setor automobilístico também será severamente afetado. Os novos impostos impactam a importação de veículos prontos, motores, transmissões e componentes essenciais para a produção de carros nos EUA. Atualmente, os preços de automóveis novos já estão próximos de níveis recordes, e os especialistas alertam que devem subir ainda mais com as novas tarifas.
A General Motors, maior montadora dos EUA, será uma das mais prejudicadas, pois cerca de 40% de seus veículos na América do Norte são produzidos em fábricas no Canadá e no México. Com as novas taxas, os custos serão repassados ao consumidor, tornando os carros ainda mais caros e impactando o mercado automotivo como um todo.
Reação do governo e incertezas
Apesar das medidas tarifárias já estarem em vigor, o secretário de Comércio Americano, Howard Lutnick, sugeriu, na terça-feira, que o governo estuda reverter algumas das tarifas aplicadas ao Canadá e ao México. “Acho que [Trump] vai trabalhar em algo com eles”, disse Lutnick, sem fornecer detalhes sobre possíveis flexibilizações.
Enquanto isso, o cenário econômico se torna cada vez mais instável. Diante das incertezas, empresas estão reduzindo contratações, os pedidos na indústria manufatureira caíram e a compra de imóveis desacelerou. O reflexo da nova política protecionista de Trump pode ser sentido a curto e longo prazo, com impactos que vão desde o dia a dia dos consumidores até a confiabilidade dos EUA no mercado global.