Apesar  das flagrantes desigualdades entre as regiões brasileiras, é nas  maiores praças bancárias do país que os cidadãos parecem sentir mais falta da presença dos bancos. No estado  de São Paulo, por exemplo, há nove municípios sem bancos, apesar de  concentrar 6.789 unidades, ou pouco mais de um  terço de todos que existem no país, segundo dados do Banco Central (BC)  até novembro de 2009. Por outro lado, o estado tem 2.464 postos de  atendimento bancário (supermercados, padarias, bancas de jornal). 
            
            Se  por um lado faltam agências, por outro, houve aumento da demanda pelos  serviços bancários. Segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da  Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Néri, uma das explicações para a  forte demanda é a ascensão de cerca de 32 milhões de pessoas às classes  A, B e C (renda familiar mensal a partir de R$1.115) nos últimos cinco  anos 
            
            - O problema é que, agora, as pessoas têm renda, mas não a  cultura de usar o banco - diz Néri. 
            
            Há poucos números concretos  sobre a desbancarização urbana, mas sobram evidências, sobretudo  comportamentais. Nem mesmo a Avenida Paulista, centro financeiro do  país, está livre. Segundo o diretor do Bradesco, Odair Rebelato,  milhares de pessoas circulam por ali diariamente, mas boa parte passa  longe das agências, optando por usar um correspondente bancário. 
            
            Banco  inibe clientes de baixa renda 
            
            Dados do Bradesco mostram que  pessoas de baixa renda e idosos são os menos servidos pela rede bancária  convencional. E os correspondentes bancários e o banco postal estariam  suprindo essa deficiência, apesar de não oferecerem todos os serviços de  uma agência tradicional. Segundo o Bradesco, 33% dos clientes atendidos  por esses dois agentes são de baixa renda e têm mais de 60 anos. 
            
            - As pessoas não se  sentem no direito de entrar na agência e abrir uma conta. Têm medo de  receber um não. Indo a uma agência dos Correios, ou a uma padaria,  sentem-se mais à  vontade - diz Rebelato. 
            
            Pesquisa com microempresários também dá a  dimensão do problema. Têm cartão de crédito e cheque especial apenas  14,23% do total. Outros 9,83% só têm cartão de crédito e 6,32%, cheque  especial. Porém, a maioria (69,6%) não tem nem um nem outro. A FGV  considera microempresários aqueles com até cinco empregados. 
            
            Em  Jardim Ingá, no entorno de Brasília, o Restaurante do Gato, que funciona  há 12 anos, vem perdendo clientela porque não aceita cartão de crédito.  A refeição custa R$5. Mas o estabelecimento só poderá oferecer o  serviço quando o dono Olivar José de Oliveiros abrir uma conta de pessoa  jurídica. Ele o fará agora que o Banco do Brasil (BB) abriu, em  dezembro, a primeira agência bancária da região, de cem mil habitantes,  às portas da capital do país. 
            
            - Cada vez mais gente quer pagar com cartão,  principalmente no fim de semana - afirma Oliveiros. 
            
            Já  Claudomiro Corrêa pegava dois ônibus para resolver problemas mais sérios na sua agência bancária, no Setor  Militar em Brasília, a 50 quilômetros de casa. Ele está transferindo a  conta para a nova agência do BB. 
            
            O Bradesco diz estar presente  em 100% dos municípios brasileiros com a ajuda dos correspondentes e do  banco postal. Já o BB afirma estar presente em 3.519 municípios com  cinco mil agências bancárias, e em outros 3.892 com seus  correspondentes. Os postos de atendimento avançado somam 40.848 e já  incluem os 14 inaugurados nas regiões de fronteira da selva amazônica. O  BC só considera atendimento bancário postos com infraestrutura e pelo menos um funcionário e, por esta razão, afirma  que há 478 municípios ainda desatendidos.