Reflexões sobre o Boletim Pessoal - Funcionários do BB merecem respeito e consideração de verdade

Publicado em: 28/08/2012
Reflexões sobre o Boletim Pessoal - Funcionários do BB merecem respeito e consideração de verdade


                Colegas do BB, no último dia 20 de agosto, o Diretor de Relações com Funcionários e Entidades Patrocinadas do Banco do Brasil, Carlos Eduardo Leal Neri, emitiu um boletim pessoal com o tema “Reivindicações” a todos (as) os (as) funcionários (as) da ativa. Como o próprio Carlos Neri nos convidou a refletir sobre o conteúdo de seus comunicados, faço aqui a minha reflexão.


                Logo no início, lemos frases como: “momento pelo qual passamos e as reivindicações apresentadas” e “conjuntura mundial é delicada e o Banco do Brasil está cada vez mais inserido nesse contexto”. Todos nós sabemos da crise mundial e todos nós também sabemos que o “momento” (que já duram alguns anos) das instituições financeiras no Brasil (públicas e privadas) é de enorme crescimento. Ano após ano, os lucros alcançam patamares recordes. Bancos que estão no vermelho em países desenvolvidos, lucram aqui a tal ponto de amenizar os prejuízos nos países sedes. O BB está “inserido nesse contexto”, abrindo agências e adquirindo instituições financeiras em outros países, lucrando bilhões de Reais por semestre (no último chegou à cifra de R$ 5,7 bilhões). O momento que passamos é extremamente positivo, portanto esse mesmo momento é extremamente favorável para que os bancos, inclusive e principalmente o BB, aceitem nossas reivindicações e, finalmente, respeitem e valorizem aqueles que são os principais agentes de tamanho crescimento: nós funcionários.


                 E por falar em respeito, seguindo no boletim, lemos sobre os “indiscutíveis avanços conquistados nos últimos anos” seguido da frase “esses avanços demonstram por si só o respeito e a consideração que nossa Empresa tem por seus funcionários” (E aqui abro um parêntese para destacar uma curiosidade. No texto, a palavra “Empresa” está começando em letra maiúscula, já a palavra “funcionários” está toda em letras minúsculas. Seria isso um sinal de que eles veem o banco com mais importância de que nós funcionários ou seria apenas uma infeliz coincidência?). Voltemos aos avanços, ao respeito e a consideração. O texto não destaca, nem ao menos cita, que essas conquistas foram conseguidas com muita luta e GREVE. Se, nos últimos anos, tivemos que chegar ao ponto de entrar em greve, é porque não houve respeito nem consideração conosco. E não foi o banco que nos proporcionou esses avanços, nem mesmo por reconhecimento e merecimento, mas sim fomos nós que os conquistamos. Como conquistamos também, há anos atrás, a jornada de trabalho de 6 horas para toda a categoria bancária. Direito esse que o banco vem, continuamente, criando “alternativas” para burlá-lo. O texto também não fala dos direitos que foram retirados, unilateralmente, de nós (esses sim, o banco foi o responsável direto). Como as substituições que deram lugar a famigerada lateralidade (que não funciona na prática), o fim da licença prêmio e do anuênio para os funcionários pós-98 (que são hoje a grande maioria no banco) entre outras. Se dependêssemos, única e exclusivamente, do respeito e consideração do banco em todos esses anos, hoje teríamos os mesmos “direitos” das financeiras terceirizadas do BB, ou seja, nenhum (não recebem vale alimentação/refeição, não têm plano de saúde e muitas vezes não recebem hora extra, fora o salário que é vergonhoso).


                Mais abaixo lemos novas “pérolas” como: “a PLR é o instrumento mais objetivo e democrático no reconhecimento de que é o funcionário o responsável pelos ganhos obtidos pela Empresa” (Opa! Novamente a palavra “funcionários” iniciando em letra minúscula e “Empresa” em letra maiúscula... Algo me diz que não foi uma infeliz coincidência...) e “demonstramos, na prática, o valor que damos ao nosso corpo funcional e à preservação da estratégica parceria entre Empresa e funcionário” (Mais uma vez: “Empresa” e “funcionário”...). Refletindo: A PLR não é (ou pelo menos não deveria ser) o instrumento mais objetivo e democrático de reconhecimento. Democracia e reconhecimento são colocados à prova durante a campanha salarial. E nessa campanha, como em muitas outras, essas duas palavras estão distantes de serem exercidas na pratica. Onde existe democracia num cenário em que os funcionários são ameaçados de descomissionamentos caso, simplesmente, reivindiquem direitos e melhorias? – Recentemente o banco acrescentou conteúdos na IN (Instrução Normativa) que diz respeito ao descomissionamento. Acrescentou o item 12.4.3 que diz que uma das hipóteses da dispensa da comissão é “quando o funcionário apresenta conduta incompatível com o cargo” (sendo totalmente subjetiva). Lembro que a IN, em hipótese alguma, está acima do que rege o Acordo Coletivo e que, portanto, está assegurada a vinculação de 3 avaliações negativas e consecutivas para o descomissionamento. – E onde está o reconhecimento numa negociação em que o banco diz estar inserido numa crise mundial (mesmo lucrando aproximadamente R$ 1 bilhão por mês) e que, por esta razão, não poderá atender as reivindicações de seus funcionários? Isso está longe de ser uma demonstração do valor que uma empresa dá aos seus funcionários. E está há anos luz de querer preservar qualquer parceria entre eles.


                Depois o texto fala que “faz-se ainda mais importante concentrarmos nossos esforços nas questões macro, de interesse de todos e que possam se reverter em benefícios para todo o conjunto do funcionalismo”, garantindo assim a construção de um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) que atenda a todos os funcionários. Espero que essas questões macro signifiquem nossas reivindicações. Qualquer coisa diferente disso seria decepcionante e uma completa falta de respeito e consideração com seus funcionários.


                         Mas, infelizmente, no final do texto, o diretor Carlos Neri deixa escapar qual é a real intenção do BB. Que é postergar a discussão e o tratamento das questões específicas do banco. Querendo empurrar com a barriga (cheia de bilhões de Reais) o que deve ser tratado agora, em nossa data base (que é 1º de setembro). O diretor diz: “temas como a 7ª e 8ª horas e migração para a CASSI e PREVI dos funcionários oriundos de bancos incorporados, apesar de relevantes, não são assuntos para serem incluídos em nosso ACT”. Como não?! Qualquer assunto relevante aos funcionários DEVE ser incluído no ACT e DEVEM ser discutidos durante a campanha salarial. As mesas temáticas são sim um ótimo instrumento para manter um diálogo permanente. Diferente do que o banco se dispõe, de utilizá-las para evitar assuntos relevantes, como fez com a jornada de 6 horas quando, durante a campanha salarial do ano passado, disse que trataria desse tema em mesas temáticas no início desse ano, apresentando uma proposta para regularizar a situação. Mas agora vemos que a intenção era outra. Após quase um ano de enrolação, o banco diz que não vai discutir esse assunto e tudo continuará do jeito (ilegal) que está.


                Espero que esse texto ajude os colegas do BB e lembro que, caso o Banco do Brasil e a Fenaban não demonstrem respeito, consideração e reconhecimento aos seus Funcionários, entraremos em greve, mais uma vez, para garantir nossos direitos e conquistar novos avanços.


Até breve!


Marcos Alvarenga


Funcionário do BB e diretor do Sindicato dos Bancários de Petrópolis